Havia felicidade a mais em mim, havia uma realização a mais em mim, um sentimento de ser absolutamente desejada bastante bem mais forte que o costume, um bem estar completamente extraordinário.
E de repente, o pequeno músculo que bate dentro de mim parou por momentos e senti-o estalar um bocadinho, o que me provocou uma sensação de desconforto, uma dorzinha insuportável.
Lá fora, como quase sempre, o dia estava frio, ouvia-se a chuva forte e impiedosa. Tentei fechar os olhos, tentei mentir a mim própria como faço muitas vezes com o objectivo de destruir algumas ferramentas personalizadas que por vezes insistem em começar a trabalhar e que me estalam o tal músculo ao qual alguns chamam de coração, ao passo que outros desconhecem este nome. Não consegui... desta vez não consegui mentir-me, estava realmente invadida por um sentimento de tristeza e desconsolo, e sentia-me uma criança a acabar de descobrir que afinal o pai natal não existia.
Fiz o que me pediram, ouvi com atenção, olhei fixamente para outros olhos e, para minha desilusão, o que aquela boca me dizia não correspondia as palavras que saíam daquele olhar. Estão a ver quando nos filmes um actor se vira para uma personagem que naquele enredo lhe é muito importante e diz com toda a intensidade "olha-me nos olhos e ..." e lhe pede para contrariar o que acabou de dizer? Isso não é nada, pelos vistos não vale de nada, existem pessoas que conseguem olhar nos olhos de quem supostamente lhes é importante e mentir com convicção acrescentando, com o mesmo olhar, com as mãos em contacto no rosto de quem as escuta, palavras alusivas a confiança! Como? Como é que se pode exigir ou questionar a confiança de alguém quando lhe estamos nitidamente a mentir? Como é que se pode exigir uma coisa dessas, um edifício que pode demorar anos a ser construído se depois, com o descobrir a verdade que se esconde por detrás daquelas mentiras ditas com tanta convicção, este mesmo edifício se pode derrubar por completo?
Eu não estava irritada... estava sim completamente desiludida e de repente dei por mim a não conseguir dizer uma palavra, para quê? As minhas palavras nada iriam alterar, ouvia simultaneamente aqueles pedidos de desculpa mas para que é que eles me serviam naquele momento? Eu já não acreditava que aquilo não se fosse voltar a repetir e repetir e repetir.
Podia começar a pensar mais em mim, podia ignorar, certamente iria ser mais recompensada, pelo menos certamente eu não teria de me mentir a mim própria para esconder as minhas atitudes e consequentemente também não me desiludiria a mim própria... mas não, não consigo, continuo a tentar ajudar, continuo a perder tempo com isto e chego mesmo a acreditar que de cada vez que tento vai ser A VEZ. Bem... cada uma dessas minhas tentativas é cada balde de água fria que me cai em cima e me congela. As vezes pergunto-me o que é que possivelmente posso ter feito para merecer que pessoas ás quais eu me entrego todos os dias não só me escondam coisas como também me mintam a cerca delas e não interessa que coisas são: mentiras são mentiras e nenhuma delas é insignificante.
Exagerando ou não, o que é certo é que senti que fui completamente apanhada de surpresa.
E agora, agora o meu pequeno músculo lida com isto consoante lhe apetecer até que consiga recompor-se de novo... e confiança? Bem, lamento mas já começo a ter dificuldade em ler essa palavra na minha folha de rascunho em determinadas situações.
"Não confias em mim?"...
Ainda consegui hesitar perante esta pergunta.
A propósito, Amo-te.
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